Desde que o fidalgo Pedro Álvares Cabral atracou em terras brasileiras, ampliando os domínios de Portugal e iniciando o desenvolvimento de mais uma colônia, uma questão tornou-se premente: a defesa das terras conquistadas. Desta forma, a instalação de pontos de defesa e fortificações sucedeu-se ao desbravamento do território. Na época, todo o material de defesa, do canhão à pólvora era proveniente da Metrópole.
A falta de um local destinado ao depósito de pólvora e munições de pedra e ferro fazia com que o material fosse reunido em uma casa dentro da fortificação, sendo as armas brancas e de fogo guardadas pelos próprios colonos. Assim, mediante as ameaças, todos os homens, fossem brasileiros ou portugueses, transformavam-se em soldados.
Em tempos de paz, peças ociosas, como canhões e munições, eram, por vezes, enterradas no solo da própria fortificação, a fim de serem resguardadas. Como não havia o ofício de espingardeiros, as armas menores, quando danificadas, eram substituídas e retornavam para os Arsenais do Reino. Somente no final do Séc. XVII, chegaram de Portugal pessoas habilitadas para os consertos, porém, com a condição de não estabelecer oficinas de armeiros.
Ao assumir o governo da Capitania do Rio de Janeiro, em 1733, Gomes Freire de Andrade - Conde de Bobadela - deparou-se com os crescentes avanços da tecnologia militar do século XVIII, percebendo a urgente necessidade de um depósito para a preservação dos materiais de guerra, sobretudo os de artilharia. Vislumbrava-se que nesse local, além de proteção contra o tempo, furtos, estragos e corrosões, os artefatos pudessem ser, também, reparados e até, quem sabe, fabricados. Nesse contexto, foi criada, em 1762, a "Casa do Trem", destinada a armazenar armamentos e munições e neles realizar pequenos reparos. O nome "trem" significava o conjunto de petrechos necessários à atividade bélica, também chamados de "Trem de Guerra".
Assim, Gomes Freire de Andrade construiu a Casa do Trem, junto ao Forte de Santiago, na região que ficou conhecida, mais tarde, como Ponta do Calabouço. Nos dias atuais, a Casa do Trem insere-se no conjunto de edificações do Museu Histórico Nacional. Ao suceder Bobadela no governo, Luiz Álvares da Cunha - Conde da Cunha - ampliou a instalação original da Casa do Trem em 1764, a ela adicionando novas construções, denominando o conjunto de "Arsenal do Trem".
Figura da Casa do Trem que retrata a fachada em 1762 Casa do Trem retratada na fachada do atual Museu Histórico Nacional
Com a vinda da Corte de Lisboa para o Brasil, as atividades industriais foram aqui liberadas. Assim, em Alvará de 1º de março de 1811, o Príncipe Regente D. Joáo VI transformou as instalações existentes na Ponta do Calabouço em "Arsenal Real do Exército", criando a Real Junta da Fazenda de Arsenais, Fábricas e Fundições, nomeando para presidi-la, cumulativamente com a Direção do Arsenal, o Brigadeiro Carlos Antonio Napion. Esta data, 1º de março, marca a aquisição, pelo Arsenal, de autonomia para atividades fabris e é adotada para comemorar seu aniversário.
Em 1832, passou o Arsenal a denominar-se "Arsenal de Guerra da Corte" e, em 1889, com a Proclamação da República, ainda situado na Ponta do Calabouço, recebeu o nome de "Arsenal de Guerra da Capital". Com sua transferência, em 1902, para a então Praia de São Cristóvão, atual Rua Monsenhor Manoel Gomes, passou a chamar-se Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro - AGRJ.
Arsenal de Guerra do Rio em seu novo endereço, na praia de São Cristóvão
Em novo endereço, no bairro do Caju, o Arsenal vivenciou a II Guerra Mundial passando por extraordinária remodelação, iniciada em 1939, que ampliou sua base física e suas instalações, conferindo-lhe suas atuais dimensões e contornos. As obras realizadas foram acompanhadas de perto pelo Presidente Getúlio Vargas, o qual modificou o nome da organização para Arsenal de Guerra do Rio - AGR.
Ao longo de mais de 240 anos de história, o AGR vem apresentando uma extensa folha de serviços prestados nas mais diversas atividades. Em suas oficinas foram fundidos os primeiros monumentos de bronze do país, executados pelo Mestre Valentim, construídos os palanques para a aclamação de D. João VI e para as coroações de D. Pedro I e D. Pedro II, confeccionado o primeiro cunho para o selo oficial do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, fundidos os primeiros canhões no Brasil, montados fuzis Mauser, produzidos projetis de ferro fundido de 75 e de 150 mm para a Artilharia de Costa e de 152 mm para a Marinha, "shrapnells" e granadas de aço de 75 mm, fabricados pontões metálicos para a Engenharia, viaturas para víveres e forragens para a Infantaria, morteiros de alma lisa nos calibres 60, 81 e 120 mm, canhões antiaéreos de 40 mm e suas respectivas granadas.
Como organização bem estruturada à disposição do Exército e das autoridades civis, foi solicitada, por diversas vezes, para auxiliar em calamidades públicas, conflitos bélicos e festividades oficiais. Também abrigou novos empreendimentos, os quais deram origem a várias outras instituiçes civis e militares, dentre as quais o Instituto Militar de Engenharia - IME, o Jardim Botânico, a Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN, o Museu Histórico Nacional e o Museu Histórico do Exército.
Arsenal de Guerra do Rio
A partir de 1996, após atuar longos anos focado na manutenção e recuperação de Materiais de Emprego Militar, o Arsenal retomou sua aptidão fabril com a produção dos morteiros raiados de 120 mm, de geradores elétricos, com a confecção de capacetes de comunicações para tripulações de blindados, miras laser para FAL, montagem de óculos de visão noturna, morteiros de longo alcance de 60 e 81 mm e reboques especializados. Paralelamente, o AGR é referência para o Exército na manutenção de optrônicos, armamento pesado, material de comunicações e eletrônica e engenharia. No final da década de 90, o AGR também passou a ser responsável pela manutenção dos sistemas ASTROS II e EDT‐FILA, mas, em meados de 2004, essas atividades saíram da competência do AGR.
Em 2005, o AGR migrou para a estrutura do Sistema de Ciência e Tecnologia do Exército, passando a integrar o seu Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), através da Diretoria de Fabricação (DF). Passou, então, cumulativamente com seus encargos fabris e de manutenção modificadora e reparadora, a desenvolver intenso trabalho em apoio às pesquisas daquele Sistema.
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Av. Monsenhor Manoel Gomes, 563 - Caju - Cep 20931-670
Rio de Janeiro - RJ - (021) 2580-1668
* Página aprovada no BI/DCT Nº 126, de 12 Nov 08.